Falar do Dia Internacional das Mulheres é debater o papel fundamental que elas desempenham na transformação social coletiva, principalmente quando falamos do voluntariado e da gestão de organizações da sociedade civil. 

Segundo pesquisa realizada pelo Atados em 2020 com gestores de ONGs, cerca de 72% dos respondentes eram mulheres. Em nossa plataforma, a maioria das pessoas cadastradas são mulheres (mais precisamente 54,6%), além de a causa Mulheres ter sido a mais acessada em 2021. 

Carlinda Lima, da Associação Sons do Bem, de Salvador (BA), vê esses números acontecendo na prática. A organização conta com a atuação de 12 mulheres para levar arte e cultura a crianças e jovens da região. 

“Nosso trabalho é muito de acolhimento. Acho que a mulher tem essa questão do acolhimento, e neste momento de tantos desafios e tantas dificuldades, a mulher ser um elo, estar à frente de uma instituição, é muito importante”, conta Carlinda.

Para Ana Paula Carneiro, coordenadora de comunicação da Biblioteca Comunitária Sete de Abril, também em Salvador (BA), é muito importante ter mulheres na equipe da ONG, ainda mais quando o principal público beneficiado pela instituição são mulheres.

“A nossa ONG é formada por muitas mulheres, foi fundada por uma mulher, então essa sensibilidade que as mulheres trazem como voluntárias para elencar pautas importantes e dar visibilidade para a instituição faz uma diferença muito grande”, conta Ana Paula. “São mulheres que estão fazendo outras mulheres brilharem também.”

No Centro Comunitário Irmãos Kennedy, localizado na cidade do Rio de Janeiro (RJ), 80% das voluntárias são mulheres, que atuam nas mais diversas frentes. “Se não fosse por elas, nossa instituição não estaria funcionando, pulsando em todas as ações, oficinas e atividades realizadas”, conta Verônica Gomes, membro da diretoria da organização.

Débora Didonê, gestora do movimento Canteiros Coletivos, em Salvador (BA), reforça a forte presença feminina no voluntariado e o papel da mulher em liderar, sobretudo em contextos de empatia e acolhimento.

“A mulher sempre foi uma líder, na verdade, que foi subjugada e colocada de escanteio com um papel doméstico”, explica. “[A lideraça] é importante para o voluntariado, porque mais do que chegar lá e fazer uma função em um projeto, [o voluntariado] é se relacionar com as pessoas, criar vínculos, se entender no mesmo mundo e no mesmo contexto que essas pessoas.”

Mulheres voluntárias 

Como outros segmentos da sociedade, o voluntariado não escapa das desigualdades de gênero. De acordo com o Programa de Voluntários das Nações Unidas em relatório que analisa o panorama do voluntariado pelo mundo, homens tendem a se engajar no trabalho voluntário formal, enquanto mulheres costumam se engajar no voluntariado informal, que recebe menos reconhecimento e apoio na prática. 

Por outro lado, o próprio voluntariado pode ajudar a diminuir as desigualdades de gênero. Ao incentivar a participação colaborativa, o trabalho voluntário consegue incluir grupos minorizados, como as mulheres, na tomada de decisões, colocando-as em um papel central na transformação social.

“A mulher está em todos os segmentos da sociedade, dentro e fora do país, atuando, transformando, melhorando, contribuindo, inovando, provocando e lutando em busca de uma sociedade mais justa e boa de se viver”, compartilha Dona Jô, voluntária de Uruçuca (BA) e coordenadora do grupo de turismo Comunitário Gente do Condurú.

Dona Jô em campanha de doação de alimentos e roupas para a população de Uruçuca atingida pelas enchentes em dezembro de 2021 (Foto: Arquivo pessoal)

Ana Avelar, voluntária fotógrafa no Rio de Janeiro (RJ), vê no voluntariado uma forma de não só exercer sua cidadania, mas também de empoderar outras mulheres. 

“A partir do momento em que conquistamos nosso lugar como pessoas capazes de exercer qualquer posição profissional em equidade de condições, entramos no voluntariado não só para sermos cuidadas, mas para assumir a liderança em questões sociais com um olhar mais fraterno e compreensivo em algumas situações”, compartilha.

Mara Campos, de Uruçuca (BA), também vê as mulheres no voluntariado como importantes peças de transformação na vida de outras mulheres. “Ser voluntaria como mulher é se colocar no lugar da outra, se imaginar a outra, pensar o que seria bom para outra mulher e levar essa transformação em forma de voluntariado para ela”, comenta a voluntária.

Mesmo afastada do voluntariado no momento, Miriam Bandeira, também voluntária no Rio de Janeiro (RJ), sente falta do trabalho do voluntário e da doação de tempo e conhecimento da atividade. “Ser voluntária é um ato de amor”, comenta. “Esse papel a mulher exerce com maestria, o pouco que disponibilizamos nos faz bem.”


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Aline Naomi
Jornalista e analista de conteúdo