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Matéria escrita pelo jornalista Álvaro Tallarico, para o projeto Comunicadores Atados Rio. 

Foto: Regina Tolomei.

Um sábado chuvoso e frio na Barra da Tijuca. Chego ao posto 2 e vejo Gabriela Lopes Silveira, carinhosamente chamada de Bibi, 14 anos, correndo na areia e chutando uma bola. Era o aquecimento. Bibi tem epilepsia e, por causa disso, teve um atraso em seu desenvolvimento. Luiz Phelipe Nobre, 40, fisioterapeuta, vai falando para Bibi manter o ritmo. É um dos fundadores do Adaptsurf, associação sem fins lucrativos, que busca promover a inclusão social de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, dando acesso ao lazer, esporte e cultura, através do contato direto com a natureza, nesse caso, principalmente, a praia e o surf.

Foto: Regina Tolomei.

Luiz demonstra calma, paciência e carinho com Bibi, que tem um ano no projeto. “Surfo de pé, de joelho, deitada”, diz ela, sorrindo, enquanto vai se alongando seguindo as instruções. Luiz explica para Bibi a importância de levantar a cabeça ao subir na prancha. Geovanna Silveira, mãe de Bibi, descobriu o projeto através de uma amiga, cujo filho também tinha epilepsia. Assim que trouxe a filha, percebeu o quanto ficou apaixonada. “Adoro estar na onda”, disse Bibi.

Dois integrantes da equipe Adaptsurf entram no mar revolto com Bibi. Um deles é Alison Esteves, 29, há sete anos na associação, que declara: “Esse trabalho é minha vida, desenvolvimento pessoal.” O outro é Gustavo Macedo, 41:

Gente que jamais entraria no mar consegue, graças a esse projeto. Uma cadeira anfíbia custa mais de R$ 2500,00. Isso aqui é uma lição de vida para ninguém reclamar de nada, só agradecer.

As ondas não facilitam, mas o esforço é grande para Bibi surfar. A chuva cai fina, mas aos poucos vai diminuindo.

Sentada embaixo de um guarda-sol está Dayane da Cunha, 24, fisioterapeuta e namorada de Gustavo. Conhecendo o projeto pela primeira vez, afirma achar incrível essa forma de possibilitar, dentro das limitações de cada um, que tenham outra plataforma de entretenimento, exercício, sem pressa ou cobrança.

Foto: Regina Tolomei.

A equipe anda com Bibi por quase um quilômetro procurando um ponto melhor, com ondas mais tranquilas que permitam o surfe. Mesmo assim está difícil. Mas é perceptível o brilho no olhar da menina, que não demonstra medo no modo como o mar se quebra, e ocorre a confluência com a natureza. Após algumas tentativas, sai exausta, mas feliz.

Converso então com Ingrid Martins, 21, estudante de educação física, há pouco mais de um mês integrando a equipe, que ficou da areia dando instruções. Seu motivo principal para estar ali vinha da infância. Com dislexia e discalculia, nunca se sentiu incluída. Sendo assim, hoje, sonha em colaborar com a inclusão social. “Ajudar como não fui ajudada”.

Foto: Regina Tolomei. 

Adaptsurf. Ensinamento, aprendizado, solidariedade, união com a natureza, alegria. Após as conversas com todos, saio reflexivo caminhando descalço pela areia e pela calçada, calça jeans molhada, olhar altivo e satisfação interna por saber que existem pessoas boas assim no mundo.


Quer saber mais?

A ADAPTSURF é uma associação que promove a inclusão e integração social das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, garantindo igualdade de oportunidades e acesso ao lazer, esporte e cultura, através do contato direto com a Natureza. Para conhecer mais do projeto você pode se tornar um voluntário pelo Atados ou dar uma olhadinha no site!

As atividades da Adaptsurf acontecem aos finais de semana, sábado na Barra da Tijuca, Posto 2, e domingo no Leblon, Posto 11, sempre das 10 às 15 horas.