As Voluntárias
Com uma ideia na cabeça e o desejo de beneficiar pessoas mais velhas, a arquiteta Fernanda Hammer, 30, passeava na Lagoa Rodrigo de Freitas quando decidiu arriscar. Pediu ao dono dos pedalinhos do conhecido cartão-postal carioca que cedesse alguns para que ela e um grupo de voluntários realizasse um passeio com cerca de 30 moradores de lares de idosos da cidade. Para surpresa dela, a resposta foi um sim descomplicado. A partir daí, o que era apenas um plano começou a ganhar contornos concretos nas reuniões do projeto Criadores de Atos, da organização não-governamental (Ong) e plataforma social Atados, onde a arquiteta conheceu a administradora Thais Rodrigues, 26, e a analista de marketing, Ana Bisaggio, 25, que resolveram bancar a ideia. Juntas, o trio, com apoio do Atados, produziu o Vô-vou de boa na Lagoa, uma das 40 ações que fizeram parte do Dia das Boas Ações (DBA), evento internacional de voluntariado ocorrido nos dias 1º e 2 de abril, em diversas cidades do mundo.
“É novo pra gente, mas estamos super felizes porque nunca fizemos um projeto desse tamanho e a gente está conseguindo realizar, reunir uma galera. Estamos impactando pessoas, além de levar carinho pros vovôs que é o nosso principal objetivo. A ideia é adotar um vovô por um dia. Estamos conseguindo mostrar, junto com o Atados, que o pessoal pode vir, chegar e se juntar”, comentou uma das organizadoras voluntárias, a administradora Thais. “Esse grupo saiu de uma subdivisão do grupo dos idosos. Foi uma equipe que deu muito certo. O passeio era uma coisa que elas queriam muito fazer. E ver o projeto crescer, os voluntários se empolgarem e aquela felicidade de fazer e de ver acontecer foi maravilhoso”, concluiu a articuladora do Atados, Lolla Angelucci.
50 voluntários — Se organizando pra ação
Com os pedalinhos acertados, o trio ainda conseguiu doações para um café da manhã no quiosque Oke Ka Baiana Tem, uma profissional de ballet, a professora, Fernanda Galveira, para aplicar exercícios de alongamento, transporte para um dos asilos e cerca de 50 voluntários que se inscreveram na ação na manhã do dia 1º de abril através da plataforma social. Faltava encontrar casas de repouso que quisessem participar. Tarefa que, segundo Thaís, não foi das mais fáceis. Questões com a saúde e mobilidade dos idosos, mudança de rotina e a necessidade de autorização dos familiares eram um entrave. Mas tudo foi superado quando as instituições particulares Casa Dignus Arte de Viver, em Botafogo, e o Lar Carioca Casa de Repouso, no Cachambi, e as Ongs Centro Bom Samaritano para Terceira Idade, em Nova Iguaçu, e a Associação Amor e Vida, em Santa Cruz, mostraram disposição e aceitaram o convite das voluntárias.
“O único grupo que ajuda a gente com passeios é o Atados porque infelizmente, para abrigos, a baixada e a zona oeste não são vistas. A gente fica meio excluído. Então sempre que surge a oportunidade, damos um jeito. A autoestima deles melhora, eles se sentem importantes, são ouvidos, recebem abraços. Porque, às vezes, na nossa rotina a gente não consegue dar atenção”, esclareceu a promotora social Agnes Ribeiro, da Associação Amor e Vida. “Precisa ter esses momentos que valorizem e abram espaços diferenciados pra terceira idade. É muito legal porque motiva e motivadas, elas criam coragem pra superar as limitações que apresentam. Acredito que não tem quem não goste”, completou a psicóloga e dona da Casa Dignus, Marina Cetrim.
Voluntárias na ação, a advogada Raquel Castelo Branco, 33, e a arquiteta Maíra Cardoso, 29, participavam pela primeira vez do Dia das Boas Ações, que faz sua segunda edição no Brasil esse ano. Elas concordam que há muitas pessoas querendo ajudar em causas sociais, mas que, às vezes, não sabem por onde começar ou encontram dificuldades no caminho. Assim, o evento facilita o contato entre ONGs e pessoas interessadas. A advogada foi convidada pela amiga e organizadora da ação Fernanda Hammer. Já a arquiteta, havia participado do projeto Criadores de Atos em outra ocasião e decidiu se engajar novamente.
“Achei essa a ação mais fofa do evento e resolvi participar. Gosto da causa e achei bastante inusitada, diferente. As outras meio que eu já vi antes ou sempre acontecem. Essa me tocou bastante”, afirmou a arquiteta. “Achei uma iniciativa muito legal porque a gente sempre pensa nas crianças e esquece os mais velhos. E eles têm que ter atenção porque são carentes, às vezes, não tem família”, acrescentou a advogada.
“Estou animada de estar aqui.”
Precisando de cuidados para se locomover e apresentando doenças em grau leve como demência, Mal de Alzheimer e Parkinson, o evento pode ser cansativo e gerar insegurança para as participantes — a maioria composta por mulheres — , seja porque algumas já moraram na rua, seja por estarem pouco acostumadas a sair da rotina das instituições. No entanto, divertiu pelas horas agradáveis passadas com as colegas, familiares, que também foram convidados por um dos asilos a participar da festa, e voluntários dispostos a conhecer mais da história de quem já viveu muito e acumulou tanta experiência. A paz e a tranquilidade que olhar a Lagoa de dentro traz, como garantiu César Alcântara, que aluga pedalinhos no local há mais de 50 anos, também faz valer a pena.
“Eu não me lembrava mais da Lagoa. Tem muito tempo. Estou animada de estar aqui. É a primeira vez no pedalinho então estou nervosa”, garantiu Maria de Lourdes Ramos, 73, da Associação Amor e Vida. “Quando eu vi a Lagoa, aquilo tudo, pensei em desistir. Não ia agüentar. Não consigo mais andar, mas eu vim”, confessou Neli Alves, 90.
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