(Foto: Gabrielle Haddad/Comunicadores Atados)

A palavra tem poder. O Feminicidade colocou o ditado em prática e o escancarou nas áreas públicas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Há dois anos relatos de luta, superação e beleza colorem muros, postes e muitas outras superfícies pelas ruas. A ordem é ocupar as metrópoles com lambe-lambes. “Nosso grande objetivo é mostrar as histórias de mulheres, deixar claro que elas são protagonistas de suas vidas e que a cidade também é delas”, conta Camila Marques Torres, arquiteta de 26 anos, que é voluntária no projeto desde a sua criação.

Agora, as 15 meninas que comandam o projeto se preparam para o próximo evento, que será realizado no sábado, 11/03, no Centro Cultural da Juventude, em São Paulo, a partir do meio dia, às 20h. Desta vez, a ideia é reunir figuras de diferentes realidades para contribuir e opinar sobre a ocupação do espaço público pelas mulheres. Serão quatro painéis — Cultura, Trabalho, Escritoras, Política — e seis rodas de debate — Corpo, Mobilidade, Cidade, Educação, Política, Segurança — além de oficinas, feira de empreendedoras e shows.

O movimento Feminicidade nasceu em 2015 a partir de uma ação do Atados que pretendia alertar para o real valor do Dia da Mulher, celebrado em 8 de março. “Queríamos resgatar o sentido original da data. Trabalhadoras morreram queimadas em uma fábrica durante uma greve. Hoje ganhamos flores e a celebração perdeu o sentido”, destaca Camila.

A arquiteta Camila Marques Torres, 26, é voluntária do Feminicidade desde o começo do movimento em São Paulo (Foto: Gabrielle Haddad/Comunicadores Atados)

A proposta, então, foi dar voz a mulheres de todas as idades, raças e classes sociais e espalhar suas frases e imagens pelas ruas. Dezenas de voluntárias participaram da ação na capital paulista, onde os lambe-lambes foram pagos por meio de um financiamento coletivo.

A iniciativa pontual ganhou um impulso extra em 2016 e se tornou um evento especial produzido, do início ao fim, por mulheres e para mulheres. Além da colagem dos cartazes no centro da cidade, foram realizadas palestras, oficinas, apresentações musicais e de poesia em uma vila, no bairro de Pinheiros. Durante dez horas, o público presente discutiu feminismo, identidade de gênero, empoderamento feminino, maternidade e reafirmou a necessidade do protagonismo das mulheres e de sua participação no espaço público.

“Esse evento foi feito com a ajuda de muitas parcerias e financiado porcrowdfunding. Foi muito emocionante e teve repercussão espontânea na mídia”, informa Camila, lembrando que o sucesso não se restringiu à capital paulista.

Um dos lambe-lambes que foram colados pelos muros de São Paulo em 2016, com histórias de mulheres (Foto: Gabrielle Haddad/Comunicadores Atados)

O Feminicidade atravessou o estado e também marcou presença entre brasilienses e cariocas. Com apenas 24 meses de existência, o projeto está ganhando reconhecimento de entidades importantes. No ano passado, surpreendeu ao ficar entre os dez selecionados para o Prêmio Mulheres de Impacto, uma parceria entre Benfeitoria, Think Olga e ONU Mulheres.

A intenção do Feminicidade é seguir reunindo histórias e promover rodas de conversa, oficinas e grupos de estudo ao longo do ano. Até o momento, mais de 100 relatos de mulheres foram coletados. A ocupação dos espaços públicos com lambe-lambes também continuará. Afinal, palavra, história e luta são substantivos femininos. E a cidade também pertence a elas.

Festival Feminicidade — Diálogos sobre o espaço da mulher
Quando:
sábado, 11/03
Onde: Centro Cultural da Juventude
Av. Deputado Emílio Carlos, 3641 — Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo — SP
Veja a programação completa aqui.

Texto escrito pela voluntária Paula Andrade e fotos da voluntária Gabrielle Haddad