Texto por Marina Bassoli e fotos e arte por Lyvia Gamerco, voluntárias do projeto Comunicadores São Paulo (2019).
Imagine um dia normal da sua vida. Você levanta, faz sua rotina matinal e senta pra tomar um café. Pãozinho, manteiga, suco de laranja e um bolinho. Gole de pingado e sai pra trabalhar. Hora do almoço com a turma, vão em um restaurante por quilo. Você está tentando emagrecer e come uma saladinha com grelhado, bem fitness. Pra beber, aquele refri-que-todo-mundo-toma-e-não-posso-falar-o-nome, afinal, você é desses que come salada e toma refrigerante. O dia passa rápido e você sai do trabalho e chega no barzinho, aniversário da sua amiga de infância. Como você comeu salada no almoço, se sente confortável pra apelar: batata frita, lanche, uma cervejinha e de sobremesa um sorvete de chocolate. Vocês riem um monte vendo o último meme nas redes sociais e tirando selfies enquanto comem a segunda porção de coxinha. Fala sério, a vida é bem mais gostosa com comida, né?
Agora, vamos imaginar um outro dia, não tão normal assim, em um futuro distante (digamos, uns 20 anos daqui). Você levanta, faz sua rotina matinal e senta pra tomar seu café-da-manhã. Não tem pão, nem fruta, nem bolo. A única opção viável é uma barrinha processada e artificial, que imita cheiro de pão na chapa e tem gosto de química. Sai pra trabalhar. Hora do almoço com a turma. Não existem mais restaurantes, e cada um come uma pasta no refeitório. Não dá para definir o gosto, mas tem todos os nutrientes necessários pra você se manter em pé e continuar produzindo relatórios. Não existe mais aquele refri-que-todo-mundo-toma, e tudo que te resta é não beber nada. O dia passa bem devagar e você sai do trabalho e vai pra casa. Ninguém mais comemora aniversário, porque a comida é super escassa. Cerveja virou lenda e o último sorvete de chocolate que você viu custava o mesmo preço do aluguel de um apartamento. Não existe mais meme, porque o mundo tá preocupado demais com a crise de alimentos e água potável. Fala sério, que vida chata, que cenário pessimista e apocalíptico, né? Pois é, mas ele pode acontecer. E o motivo principal se deve a seres bem pequeninos, mas grandiosos: as abelhas!
“Gente, mas o que as abelhas têm a ver com meus lanches, meus refris e meus memes?” Tudo!
Pouca gente sabe, mas 30% do que comemos é proveniente do trabalhinho das nossas incansáveis e organizadas operárias voadoras. Parece pouco? Tá bom. Que tal te contar que 75% de todas as flores do mundo só existem por causa das abelhas? “Ah, mas flor não é comida”. Certo, tirando as PANCs, não podemos viver de flor. Mas sabe aquela caipirinha de maracujá que você toma na praia com gelo duvidoso? Pois ela só existe porque uma abelha super específica poliniza a flor do maracujá, que por sua vez dá vários frutos amarelos lindos que originam sua bebida tipicamente brasileira e refrescante. “Ok, entendi. Mas eu posso viver sem caipirinha.” Hum, bom ponto. Mas você não pode viver sem água, certo? Vou resumir pra você: a água vem das nascentes; as nascentes só nascem por conta da mata ciliar; e a mata ciliar só nasce se as abelhas polinizam. Sentiu o drama? Ou seja, sem abelhas, sem comida, sem água. E definitivamente sem memes.
Agora vamos para outro exercício de imaginação. Eu aposto que quando você pensa em abelha logo vem aquela imagem de um inseto listrado, amarelo e preto, com um ferrão bem doído, né? O gênero dessa abelha é Apis Mellifera, e sua criação é a famosa Apicultura. Saiba que essa abelha não é nativa – PASME! Ela é uma estrangeira europeia e africana que chegou aqui sem passaporte.
As abelhas nativas, tipicamente brasileiras que nasceram com samba no pé e muita vontade de trabalhar duro são as “abelhas com ferrão atrofiado”, ou nossas queridas “abelhas sem ferrão”. Elas são do gênero Melipona e sua criação se chama Meliponicultura. E o nosso solo gentil abriga ¾ de todas as espécies de abelhas sem ferrão do mundo inteiro. Não é incrível? E só elas, nossas super-Melis, conseguem repovoar nossas florestas e campos de flores e frutas brasileiros. Aí você me diz “Poxa, eu amei saber de tudo isso. Mas por que só estou descobrindo agora? Por que ninguém fala sobre as nossas abelhas nativas?” O de sempre, meus amigos. Falta investimento e interesse governamental. Triste, né?
Mas nem tudo está perdido. Por sorte, temos um grupo muito especial que se dedica desde 2014 a conhecer, proteger e divulgar a importância das nossas abelhas conterrâneas. São os amigos da ONG SOS Abelhas Sem Ferrão. O fundador, Gerson Pinheiro, conheceu as abelhinhas por causa de um trabalho escolar de sua filha mais nova. Se apaixonou pelo universo organizado e quase hermético desses seres vivos, e entendeu o quanto contribuem para nosso bem-estar e qualidade de vida. Com a SOS, consegue divulgar a causa das abelhas em escolas e acredita no poder das crianças para mudar o mundo. Passou a criar diversas espécies sem ferrão em seu quintal, que é um lugar mágico. Foi ele que nos contou tudo isso que acabamos de explicar aqui e nos apresentou a tantas espécies de abelhas sem ferrão. Diversas, inteligentes e responsáveis pelo nosso ambiente.
Se conseguimos te cativar com esse assunto tão legal, agora você deve estar pensando “Nossa, eu quero muito ajudar a salvar as abelhas! Mas como posso fazer isso?”. Fizemos a mesma pergunta ao Gerson e à SOS, e a resposta veio certeira: conheçam, se informem e divulguem. Ah, e se por acaso uma abelha cruzar seu caminho, dê passagem para que ela siga sua missão. Ensinem seus amigos e familiares que elas são muito importantes e precisam ser preservadas. Para te ajudar com isso, criamos este infográfico com dicas super legais para proteger as nossas Melis!
Para conhecer mais sobre a SOS Abelhas sem Ferrão ou fazer um trabalho voluntário na organização, clique aqui
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