Matéria escrita pelo jornalista voluntário Álvaro Tallarico e fotos cedidas pelo Projeto.
É uma segunda-feira e estou na reunião dos voluntários do Projeto Girassol, no CIEP Agostinho, no bairro do Humaitá, Rio de Janeiro. A ONG oferece atendimento psicossocial para crianças e jovens provenientes de famílias de baixa renda em suas escolas. São muitas histórias. Em uma delas, elegeram o tema bullying para uma oficina capitaneada por Rinaldo Almeida, voluntário, mediador de conflitos, realizada por meio de teatro. P., o mais implicante e que dá mais trabalho da turma, surpreendentemente participou bem. A oficina foi forte e didática para todos. No segundo encontro, menos alunos em sala e P. não estava: havia sido transferido. Logo agora que estavam iniciando uma melhora com ele… No terceiro encontro, trouxeram a saída de P. como tema para debate em sala. São oportunidades especiais para os estudantes abrirem problemas, sentimentos e reflexões a partir de suas rotinas e dos acontecimentos escolares e familiares. Tanto que, nessa instituição, a proposta inicial eram somente três encontros, porém as crianças pediram por outros. Entre os membros da equipe Girassol fica decidido que irão procurar P. para saber como ele está, como se sentiu com a transferência e como colaborar de alguma forma.
Em outro momento surge a pergunta: “Quem tem uma pauta?”. Antônio Moreira, advogado, oficineiro do projeto Girassol, pede a palavra. Ele pretende trabalhar com o tema eleições na turma que está atendendo, em uma escola da comunidade dos Guararapes, visando ensinar sobre democracia. Está fazendo com os estudantes a leitura do livro “Brasileiras Incríveis”, de Débora Thomé. Antônio ressalta na reunião que os alunos não têm brigado mais como antes ocorria, porque quem briga fica fora da oficina. Na oficina são todas crianças com muitas necessidades, não sabem ler nada, e têm por volta de oito anos de idade.
Para realizar os atendimentos individuais nas escolas, somente os psicólogos podem atuar. Também são necessárias autorizações dos responsáveis, pois os atendidos são menores de idade e a ONG está dentro das escolas. As oficinas ministradas pelos psicólogos e voluntários têm enfoque psicoterapêutico e apresentam excelentes resultados para os alunos, professores e até para os responsáveis das crianças e adolescentes. A ONG não possui ajuda financeira e vive de doações dos Amigos do Girassol, que auxiliam com alguma quantia mensalmente ou semestralmente para manter o projeto. A equipe de atendimento é composta majoritariamente por psicólogos e outros profissionais voluntários.
Três psicólogas vêm com a história mais pesada da reunião. Em uma oficina só com meninas, sugerem o sorteio de um tema. Uma se manifesta para escolher um específico: estupro. M. relata que sofreu abuso do namorado da mãe e arrependia-se de não ter denunciado, pois pensava que o mesmo poderia fazer com outras. Em um canto da sala, L. abaixa a cabeça e começa a chorar. Não quer falar, olha para o chão. M. pede a ela que fale e se abra. L. conta que quando estava morando em determinada comunidade era abusada pelo cuidador da creche. Todas as alunas ficam comovidas, emocionadas e se apoiam. Uma delas levanta, vai até L. e pede para abraçá-la. As psicólogas Bia, Lia e Débora deram todo o suporte e colaboraram para que as meninas saíssem melhores, mas relatam que ficaram um pouco abaladas. Logo, recebem o apoio de Solange Cantanhede, uma das coordenadoras do Girassol, reiterando a importância desse trabalho, o apoio profissional dado às meninas. Os sorrisos voltam, pois o grupo está lá para isso, ajudar, atender, cuidar, proteger e orientar. São 20 anos atendendo crianças e jovens, colaborando para que superem seus problemas. Uma ONG que utiliza a psicologia como ferramenta de transformação social. Flores que levam o sol a outros jardins e impedem que murchem, fortalecendo, acolhendo e regando com positividade e profissionalismo.
Quer saber mais? Trabalha com psicologia e quer ajudar? Tem outra profissão e quer oferecer uma oficina?
Alguns resultados desse trabalho são as mudanças positivas de comportamento das crianças; melhora no aproveitamento acadêmico; diminuição da evasão escolar; resolução de conflitos familiares e encaminhamento de casos previstos no ECA aos Conselhos Tutelares.
O Projeto Girassol fornece atendimento psicológico individual nos mesmos moldes da psicoterapia tradicional dentro do ambiente escolar, oficinas socioeducativas, além de mediação de conflitos entre alunos e atores institucionais envolvidos no funcionamento da escola; Também há um encontro mensal com os responsáveis dos alunos para um misto de café da manhã e terapia comunitária onde são debatidos diversos assuntos, desde educação sexual até medo da violência; roda de conversa mensal com responsáveis dos alunos inclusivos para ouvir as queixas e dificuldades vividas no dia a dia. Visite o site http://projetogirassol.org.br ou mande um e-mail para: [email protected]. As reuniões acontecem às segundas-feiras de tarde.
Acesse o site do Atados e procure vagas no perfil da ONG TAMBÉM!
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