Texto por Marina Bassoli e fotos por Lyvia Gamerco, voluntárias do projeto Comunicadores São Paulo (2019).


Existe tanta coisa que não sabemos. O que houve com Amelia Earheart? Quantos grãos de areia existem no mundo? Por que as baratas não morrem (tem que ter uma explicação)? Uma infinidade de desconhecimento nos assombra e nos impulsiona a saber mais. O lado bom de tudo isso é que, por sorte – e graças à revolução cognitiva – existe, sim, um tanto de coisas que sabemos.

Sabemos, por exemplo, com bastante exatidão e clareza, que atingimos a incrível marca de 7.7 bilhões de pessoas habitando a Terra. Nosso País, gigante pela própria natureza, tem 209.3 milhões de brasileiros. E aqui vai um dado que possivelmente está naquela parte nebulosa do desconhecimento para a maioria de nós: temos a quinta maior população de idosos do mundo! E a pirâmide está se invertendo bem rápido: até 2030, o número de idosos (pessoas com mais de 60 anos) será maior que o número de crianças! Parece bem legal conceber a ideia de que estamos vivendo mais e chegando mais longe, não é? Mas será que estamos fazendo isso do jeito certo? 

Junto com os anos de vida, chegam outras companhias: dores nas articulações, cansaço, às vezes a traição da sua própria memória, outras vezes a traição do seu próprio corpo. Sem falar nos desafios sociais. Muitos idosos sofrem preconceito, marginalização tecnológica e abandono dos filhos e netos, que foram engolidos pela rotina do século XXI. Junte tudo isso e você terá uma pessoa com baixa autoestima, sentindo-se isolada e triste. Parece – e é – bem grave, né? Agora vamos relembrar que existem tantos idosos no Brasil e que o número está aumentando (ainda bem)! O que fazer para que essas pessoas incríveis, no auge de seus mais de 60 anos de experiência e história para contar, recuperem sua dignidade, seu empoderamento e principalmente aquela vontade de continuar sonhando?

Foi pensando em tudo isso que surgiu o Projeto Velho Amigo, “uma associação sem fins lucrativos que há quase 21 anos trabalha pela cultura de inclusão do idoso e articula ações para a causa do envelhecimento no País, beneficiando cerca de 1.700 idosos.” O projeto é incrível e cumpre o que propõe; tem diversas ações legais como mutirão da beleza, da odontologia, da saúde, além de projetos de cultura e integração social. Só que hoje vamos contar um pouquinho de uma extensão do Velho Amigo, o Núcleo do Idoso de Heliópolis, que surgiu com a missão de atender a população idosa de Heliópolis, em São Paulo, para reintegrá-los a atividades sociais e saudáveis, retomando a independência, autonomia de pensamento e resgatando seu papel no núcleo da sociedade e da família. 

As turmas são sempre cheias e animadas, com aulas de tudo: artes plásticas, informática, alfabetização, dança circular, arte-terapia. Os alunos são dedicados, pontuais e muito carinhosos, entre eles e com os professores. Frases como “o projeto mudou a minha vida” e “aqui é a minha família” são ouvidas por todos os idosos, quando questionados do que sentem sobre o Núcleo. 

Uma das aulas que chama bastante atenção de quem vê de fora, não só pelo tema, mas pela performance das alunas, é a Yoga! O professor Pereira, de aura zen e sorriso amistoso, conduz a aula há anos e garante com alegria: “A Yoga muda a vida das pessoas. Elas vem aqui e param de sentir aquela dor da artrose. Socializam com as amigas e se concentram em si. Yoga é respiração e concentração. A mente é quem comanda o corpo.” As yoginis também falam com muita emoção sobre como a prática mudou a vida delas.

Para Dona Guiomar, o Projeto Velho Amigo é literalmente um velho amigo: “O Velho Amigo é meu remédio, me trata com carinho. Eu divulguei no meu bairro inteiro, na minha igreja, pra todo mundo. Os filhos vão crescendo e a gente se fala no WhatsApp todo dia. Eu gostaria muito de estar abraçando eles, mas como não dá, eu abraço em pensamento e peço a Deus pra abençoar, e aí tá tudo certo.” Para a Dona Edite, 70 anos, a Yoga é a salvação da rotina: “Se não fosse isso aqui, era do sofá pra TV e da TV pra pia. Agora, não. Eu venho, faço exercício, falo com as minhas amigas, é muito bom. Nos sentimos em casa, é a nossa segunda família!”

Na falta de um lar, o Projeto e o Núcleo dão uma escola. Na ausência dos filhos, as amizades das turmas se tornam família. Para curar as dores, as aulas dão movimento. Para ativar a mente, os professores viram mestres. E, pouco a pouco, o preconceito, o isolamento e a baixa autoestima dão lugar a novos sonhos. E cada história desta matéria ajuda a construir o futuro, que será cada vez mais velho, e portanto, mais incrível! Namastê.


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