Uma experiência de intercâmbio é um momento único de aprendizado que levamos por toda a vida. Nós acabamos saindo da zona de conforto e em certos momentos sentimos um desconforto grande. Mas o que um voluntariado na Irlanda tem a ver com isso?
Hoje percebo que muitas atividades e experiências que vivenciei na Irlanda foram tocantes para minha formação individual. Além do respeito e conhecimento de uma nova cultura, tive a oportunidade de ter trabalhado, voluntariamente, na Volunteer Ireland.
A Volunteer Ireland é uma organização que atua com voluntariado por toda a Irlanda. Além disso, eles realizam parcerias com diversas empresas no país. O pouco que permaneci nessa aventura – cerca de 4 semanas – me permitiu desfrutar de algumas lições.
Separei algumas dicas sobre como o modelo de voluntariado da Irlanda pode ajudar a sua ONG a fazer um trabalho ainda mais efetivo. Se você participa de algum projeto ou organização social, se liga nas dicas que eu vou passar:
1 – Mantenha a organização em dia!
Uma das coisas que mais me chocou foi a tamanha organização de todo projeto. Na Irlanda, a Volunteer Ireland contava com financiamento governamental e empresarial.
Devido à cultura de voluntariado ser uma grande influência na Irlanda, eles já tinham um mecanismo de funcionamento estruturado e planejado. Porém, não pude deixar de notar alguns detalhes que, certamente, fazem a diferença.
Todos os documentos eram escaneados e cuidados com muita atenção, até mesmo selos, carimbos e envelopes tinham locais próprios. Sabemos que muitas ONGs no Brasil não contam com tantos recursos e as coisas são bem mais complicadas.
Porém, a coordenação pode vir com pequenos métodos: uma planilha de excel com o nome dos fornecedores, custos e nome de contribuidores já é um bom avanço. Todos esses dados podem ser armazenados gratuitamente em plataformas digitais como o Google Drive e compartilhados com todos da organização.
O essencial é adquirir sistemas que mantenham a gestão do projeto em dia. Caso você tenha dúvidas em como fazer isso, foca na próxima dica!
2 – Não tenha medo de convidar voluntários e conte com eles!
Assim como o Atados, a Volunteer Ireland é uma plataforma que une pessoas que desejam uma experiência de voluntariado com organizações sociais na Irlanda. Uma das coisas mais legais que vi é que a ponte entre esses dois lados era justamente os voluntários. Eles passavam algumas horas da semana nas sedes – lá existiam 21 sedes fixas por toda a Irlanda – ajustando o que as pessoas gostariam de fazer até dar match com uma ONG. Além disso, vários voluntários faziam parte da equipe como designers, engenheiros, programadores ou mão na massa.
Eles também ajustavam suas demandas e, sem funcionários suficientes, contavam com o apoio de muitas mãos extras. Assim como eles, o Atados já contou com muita participação voluntária para fazermos algumas ideias saírem do papel!
O Copa das Causas foi um evento realizado pelo Atados com o intuito de promover a diversidade e integração social. Como? Através do esporte que o país mais ama: o futebol. Para que ele pudesse acontecer, todo o projeto foi realizado por uma equipe de voluntários que se superaram.
Ao passo que acreditamos no potencial da equipe de voluntários e nos propusemos ao contato, eles também acreditaram na causa e nos apoiaram.
Então, se joga na criatividade:
Se você não sabe nada sobre informática, convide alguém que saiba! Se quer dar uma repaginada na sede, chama uma galera que entenda de design e programação. Quer fazer uma apresentação legal para arrecadar fundos? Chama um ninja em PPT! E assim vai…
3 – Crie um sistema estruturado para os voluntários!
Toda história tem início, meio e fim, né? Para um programa de voluntários isso também é imprescindível. Isso porque se você deixar claro que as obrigações dos voluntários serão por um tempo determinado, eles poderão se planejar para comparecer às reuniões e organizar a própria agenda para que consigam cumprir com a tarefa determinada.
Pense que seria o mesmo de sair com alguém no primeiro encontro e a pessoa já falar em casamento de primeira! Você já se assusta porque está disponível no momento, mas não para a vida toda. Trabalhar com voluntários funciona da mesma forma! Ele não estará comprometido até a morte, mas por enquanto, se propõe a fazer parte.
No momento da criação da vaga, já pense nas datas de reuniões e estipule um prazo máximo para a execução de uma tarefa. Também não esqueça de trocar contatos e se mostrar disponível para dúvidas ou questionamentos. Descobri isso não só no estágio na Irlanda, mas também vendo o número discrepante de voluntários em vagas pontuais e recorrentes.
Gerir voluntários não é uma tarefa fácil, mas precisamos estar constantemente planejando e encontrando formas criativas de engajá-los.
4 – Seja criativo e inove os processos!
Em um dos meus dias na Volunteer Ireland, eu conheci a sede que trabalha especificamente com o gerenciamento do site. Eu trabalhei na área de contabilidade da sede administrativa, mas assim como falei anteriormente, existiam 21 sedes espalhadas por toda a Irlanda e as outras trabalhavam com projetos e a conexão de voluntários e organizações. Assim, uma das grandes responsabilidades e dificuldades era estabelecer essa ponte para que o crush que o voluntário sempre sonhou, não se tornasse o maior embuste.
Por isso, eles viviam pensando em ideias novas para chamar mais voluntários. Um exemplo é que, entendendo a dificuldade de pessoas mais velhas com informática, eles estabeleceram uma espécie de “café com ONGs”. Era um espaço para os projetos falarem de suas demandas e, após, as pessoas se inscreviam para participar– bem das antigas mesmo! Com papel e caneta, telefone e até cartãozinho. Foi uma forma criativa de integrar uma parcela das pessoas que tinham dificuldade com redes sociais, para que elas também participassem e foi um sucesso! Eles fazem mensalmente e convidam de 3 a 4 projetos para essas palestras.
5 – Respeito e participação!
Lembra aquela velha história de que o voluntário faz caridade aos mais pobres? Bom, eu – e ninguém do Atados – acredita mais nisso!
Voluntariado é uma questão de participação social. Se quisermos que a transformação aconteça, é responsabilidade nossa fazer um mundo novo. Se o voluntário se comprometeu a fazer parte, ele está contribuindo como igual e não ajudando por boa vontade.
É importante deixar isso bem claro que, assim como qualquer outro, é um trabalho. Então, valorize e incentive a função que ele desempenha.
Isso me tocou profundamente porque percebi que meu trabalho tinha sido valorizado e o aprendizado ficou não só para eles, como para mim também.
Um pouquinho mais sobre mim
Trabalho no Atados há cerca de um ano. A área que atuo se destina ao relacionamento com ONGs e projetos sociais e voluntários, através do processo de curadoria do site.
*Texto escrito por Helena Barros, estagiária do Atados no Rio de Janeiro
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