Por meio do remo e da canoagem, o Instituto Remo meu Rumo visa melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes com deficiência física. Promovendo o desenvolvimento físico, social e psíquico.
Texto por Danielly Abreu e fotos por Tamires Barroso, voluntárias do projeto Comunicadores São Paulo (2019).
São nos barcos a remo e caiaques na Raia Olímpica da USP que encontramos a busca de uma vida com mais liberdade e autoestima. Com o peito estufado e segurando firmes os remos, crianças e adolescentes vencem suas limitações físicas para construir um futuro com autoconfiança, superação e ampliando a sua visão de mundo. O Instituto Remo meu Rumo encontrou no esporte uma ótima oportunidade de reabilitar crianças e adolescentes com deficiência física. Engana-se quem pensa que o projeto visa apenas à reabilitação física, o compromisso é muito maior, a meta é promover ganhos sociais e psicológicos também.
O projeto que existe há seis anos foi criado pela doutora Patrícia Grangeiro. A médica ortopedista percebia que as crianças com deficiência física tinham suporte de fisioterapia e tratamento médico, mas não praticavam esporte, muitas vezes por não terem acesso. Uniu sua profissão com a paixão pelo remo, dando início ao trabalho social do Instituto Remo meu Rumo, possibilitando uma melhor qualidade de vida a esses jovens.
Assim foi criada a instituição, que inicialmente atendia somente crianças com deficiência motora. Hoje, o trabalho é estendido para crianças com deficiência visual e intelectual. Além de separarem uma cota para crianças sem deficiência com a finalidade de promover a inclusão social. Daniela Alvarez, educadora física, fala que essa união faz com que a sementinha do bem seja plantada.
Os profissionais relatam que quando as crianças olham a água pela primeira vez, sentem o medo de não conseguirem. Assim como diante de diversas fases da vida. O ensino do remo e a canoagem acaba tornando o processo de superação dos obstáculos da vida mais fácil. A dificuldade de se sentirem incluídos é muito forte. A assistente social, Jennifer Macena fala que o bullying e o preconceito ainda são realidade na sociedade, infelizmente. Na escola, essas crianças se sentem diferentes, sem respaldo, com prédios e salas não adaptadas e muitas vezes, pouco aceitas no grupo social. Essa é uma das grandes preocupações do Instituto Remo meu Rumo, possibilitar que essas crianças sintam-se incluídas. Dentro do barco, as diferenças se anulam e todos igualmente remam com um mesmo objetivo.
Cada vez que seguram com firmeza um remo, puxam o remoergômetro até o fim, conduzem o barco, socializam ou entendem o seu lugar no mundo, os profissionais do Instituto Remo meu Rumo sentem que a missão foi cumprida. A equipe é formada por fisioterapeutas, educadores físicos, psicólogos, assistente social, estagiários e voluntários. Profissionais que realizam todo o suporte para a prática do esporte, como também impulsionam a positividade para que aqueles jovens possam buscar suas conquistas na vida. Como diz a educadora física Daniela, “o não eles já tem, então vamos em busca do sim”.
Matheus Alexandre é o resultado de que o incentivo e a preparação não é apenas teoria. “A equipe me fez enxergar o potencial que eu tinha, me fez enxergar tudo o que eu posso. Tudo que eu quero, eu consigo. Eles te dão a visão de um mundo totalmente diferente, no meu caso, como eu pensava em relação a minha deficiência”. O psicólogo Alberto dos Santos entende que o produto final não é estar na água, que o esporte é um meio. O maior resultado é ver como as crianças se desenvolvem socialmente, iniciam um pensamento crítico e começam a colocar em prática no seu dia a dia o que foi ensinado.
Os 115 alunos são divididos em turmas durante a semana de segunda a quinta em dois períodos (manhã e tarde). E há também um grupo aos sábados. A rotina dos pequenos remadores é intensa, mas sempre cheia de alegria e disposição. Antes de vestirem os coletes, pegarem os remos e partirem para a água com seus barcos, eles passam por um processo, assim como qualquer aprendizado. Com um belo sorriso no rosto, conversa e alegria realizam as etapas: aprendem o movimento da remada no remoergômetro, passam para a simulação no barco escola e quando estão preparados iniciam a condução do barco na água.
Assim como não remam sozinhos, na vida eles também precisam de suporte para conseguirem alcançar seus objetivos. O Instituto desenvolve projetos com a família das crianças, com rodas de conversa ou tratamentos mais pontuais. O trabalho conjunto com a escola também é fundamental para conscientização e tornar o ambiente mais agradável para eles, pois é o local em que passam a maior parte do tempo, conta a assistente social Jennifer Macena. O Instituto está presente em todas as etapas, construindo o futuro conjuntamente.
Os voluntários são parte importante do projeto, seja conduzindo a lancha, remando ou entoando o apoio com simples palavras: “Força! Não desista! Você vai conseguir!”. Mas não é apenas uma motivação para a conquista do remo, e sim, um preparo para toda a vida. Daniela Alvarez entende que a gratificação é ver a evolução das crianças e adolescentes. Ver uma criança sair da cadeira de rodas e começar a andar com muletas. O sorriso de outra, que sempre tentou escondê-lo. A corrida para os braços dos pais, comemorando a conclusão do trajeto. Ver alunos chegando de peito estufado por se sentirem incluídos. Essa é a maior recompensa!
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