Por Leonardo Moro, voluntário do projeto Comunicadores São Paulo (2018).


A vida nos apresenta dificuldades, cada uma do seu jeito. Sandra Reis recebeu um grande desafio em sua jornada e nos dá diariamente um grande exemplo de amor e cidadania.

Sandra, mãe de três filhos não imaginava o que estava por vir. Afinal, nenhuma mãe espera ter um filho com algum tipo de deficiência. Durante a gestação de Felippe, seu filho do meio, o bebê foi diagnosticado com Síndrome de Down. Foi um choque grande que a fez estudar muito sobre o caso, lendo livros e frequentando palestras relacionadas ao assunto. Essa vontade de entender o que estava por vir, fez com que ela se envolvesse cada vez mais com a causa e tivesse força para dar muito carinho e amor ao seu filho, chamado carinhosamente de ‘Fê’.

Foto: Andreia Nery

A Síndrome de Down é uma condição cromossômica causada por um cromossomo extra no par 21 que provoca nos portadores características físicas semelhantes e suscetibilidade a algumas doenças. Embora apresentem deficiências intelectuais e de aprendizado, são pessoas com personalidade única, que estabelecem boa comunicação e também são sensíveis e interessantes. 

No Brasil são estimados mais de 300 mil pessoas diagnosticadas com síndrome de Down. São números expressivos que não devem ser ignorados, pois junto aos números, vem os problemas e desafios de integrar essas pessoas à sociedade, que já sofre com sérios problemas urbanos em geral.

Foto: Galera do Click

Ciente do que estava por vir, Sandra não desanimou, pelo contrário, dedicou muito amor a seu filho, o educando, criando e dando todo o suporte necessário.  Teve uma bela iniciativa ao matricular o menino, ainda criança nas aulas de judô. Essa caminhada pelo judô foi um sucesso, não só para o Felippe que fez seu nome no esporte conquistando medalhas, mas em geral para a sociedade, principalmente após conquistar sua faixa preta.

Em outubro de 2015, Felippe passou nos testes da Federação Paulista de Judô e se tornou o primeiro judoca faixa preta com Síndrome de Down do Estado de São Paulo. Esse foi um grande exemplo de superação para a sociedade, mostrando a força de vontade dele e da família de superarem os desafios que lhes eram impostos até o momento. Além disso, contribuíram com os demais, incentivando-os e mostrando-os que a inclusão é possível, e assim então abrindo portas e oportunidades para novos atletas.

Foto: Andreia Nery

Essa jornada não tem sido fácil! A família passou por uma fase difícil, quando a carência de um círculo de amigos para seu filho, se tornou muito presente. Felippe sempre frequentou a casa de amigos desde criança, mas chegou um determinado momento no qual não era mais fácil essa inclusão, pois com o passar do tempo e com o menino crescendo, algumas amizades e vínculos se perdiam. Então veio a ‘jogada de mestre’ de Sandra…

Trabalhando como fotógrafa, começou a ensinar certos conhecimentos sobre fotografia para seu filho, que a acompanhava em eventos e aprendia muito, chegando até a tirar fotos junto com a mãe. Elogiada por todos e com muitos incentivos fundou o projeto Galera do Click, onde Sandra conseguiu um vínculo de amigos mais do que especias para seu filho. O projeto é uma ONG que deu certo, graças ao empenho de uma mulher batalhadora que faz as coisas por amor. Ela ensina pessoas especiais a fotografarem, abrindo portas no mercado de trabalho.

“O que é especial merece ser fotografado”.

Sandra Reis, idealizadora do Galera do Click

A iniciativa de Sandra é o que esperamos de um cidadão que tem o compromisso com a sociedade e deseja desempenhar seu papel verdadeiramente. Cidadania é cumprir deveres não só para um indivíduo, mas sim para uma sociedade, o que geralmente resulta em retorno benéfico e sincero para aquele que o pratica. 

O projeto ajuda dezenas de famílias diretamente com criação de vínculos de amizades, conselhos, aulas de fotografia e profissionalização dos alunos. 

Sandra Reis e Felippe. Foto: Andreia Nery

Essa é uma grande história que ainda está sendo construída, e que segundo os planos de Sandra, uma batalhadora incansável, ainda há muita coisa a ser feita. Existem muitas famílias necessitando de ajuda, de um acalanto, de um olhar diferenciado para as suas carências, tanto afetivas quanto físicas e, para isso, a ONG precisa de colaborações como a renovação e manutenção dos materiais de fotografia e voluntários para trabalharem, o que certamente promoveria o crescimento da mesma e a ampliação dos seus serviços. Sandra é um exemplo para nossa sociedade, mostrando que todos podem, de alguma forma fazer a diferença no mundo.