Com 90% de alunos bolivianos, projeto apoia a inclusão de migrantes na zona Norte de São Paulo. Por Katherine Rivas – Voluntária do Comunicadores.

De olhos amendoados, pele morena, cabelos escuros e traços indígenas, o pequeno Michel (10) aguarda o pai após as aulas do Lutando pelo Futuro – projeto que nasceu com o intuito de proporcionar às crianças de baixa renda a oportunidade de aprender Boxe, de forma lúdica e como esporte, na região Casa Verde Alta, zona norte de São Paulo.

Foto: Edison Morais

O Michel é filho de Eufrácio Martinez (39), imigrante boliviano, que descobriu o projeto por meio de uma amiga há dois anos enquanto ela levava o filho para casa “Percebi que o filho dela tinha bandagem nas mãos, então preocupado fui e perguntei se ele quebrou a mão. Ela riu e contou que ele estava aprendendo boxe e que a bandagem fazia parte do treino. ‘Tem aula de graça lá naquela casa amarela’ comentou comigo” conta ele.

Foi então que Eufrácio ficou curioso e trouxe o pequeno Michel para o projeto, que na época tinha apenas 15 alunos. Como ele passava longas jornadas de trabalho, Michel participava duas vezes das aulas, no turno da manhã e da tarde.

Hoje, Michel se encontra no quarto ano do ensino fundamental, frequenta o projeto todo sábado e é fã das ‘titias do boxe’ além das excursões organizadas pela ONG. Enquanto conversa conosco segura nas mãos uma bandagem “Levou um tempinho para eu aprender a lutar, mas além de relaxar serviu para eu saber me proteger” explica a criança.

Além da curiosidade pelo esporte, este foi o motivo principal para Eufrácio inscrever seu filho nas aulas. Vítima de bullying na escola por motivo da sua nacionalidade, Michel era constantemente agredido pelos colegas de sala “Ele era sempre muito quieto e indefenso, quando era mais novo eu lhe ensinei que jamais deveria brigar com alguém. Mas, os colegas da escola batiam constantemente nele. Então eu disse que o inscreveria no boxe para que aprendesse a se defender, mas com a condição que nunca brigasse só por brigar” explica.

Foto: Edison Morais

Ao longo das aulas, o pequeno começou a experimentar mudanças na sua personalidade, deixou de ser tímido e começou a falar mais com as pessoas. “Senti que mudou de atitude. Antes a vida dele era estar sempre calado, saia de casa, ia para escola, voltava e fazia as tarefas escolares sem falar com ninguém. Ele mudou radicalmente” comenta orgulhoso o pai.

Foto: Edison Morais

O pequeno Michel encontrou um equilíbrio entre a timidez e pôr um alto as brigas com os colegas. Hoje interage com os amigos do Lutando pelo Futuro, brasileiros e bolivianos. Para Eufrácio, todas as crianças do bairro deveriam frequentar as aulas da ONG. “Fico triste porque muitos amigos meus não conseguem levar seus filhos porque os patrões não lhes permitem sair do trabalho. Mas, tenho esperança que um dia consigam. Este projeto é sensacional para as crianças brasileiras e estrangeiras, ajuda a eles interagirem socialmente e se desenvolver mentalmente” conclui.

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