Texto escrito por Janaina Oliveira do Atados.

 

Na próxima quarta-feira, milhares de mulheres negras sairão em marcha pelas cidades do país para celebrar a resistência de sobreviver ao sistema patriarcal e racista, e exigir o fim do genocídio negro e do feminicídio que afeta de modo mais frequente e cruel os corpos negros.

A escolha da data aconteceu no 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino Americanas e Caribenhas, realizado em 1992, na República Dominicana. Foi neste encontro que um grupo de mulheres se reuniu para discutir políticas de inclusão e debater sobre discriminação racial e de gênero. Como resultado foi criada a Rede, de mesmo nome, e a oficialização pela ONU do dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.
Em 2014, o governo brasileiro sancionou a Lei nº 12.987/2014, que estabelece o dia 25 de Julho como Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. “Rainha Tereza”, como era conhecida no Vale do Guaporé, foi uma importante líder quilombola que governou o Quilombo de Quariterê logo após a morte de seu companheiro, José Piolho. De acordo com os registros da época, mais de 100 pessoas constituíam o quilombo, composta por negras e indígenas que resistiram no território até meados da década 1770, quando Tereza foi capturada por soldados e assassinada.

A invisibilidade de agentes sociais como Tereza de Benguela, Aqualtune e outras tantas, evidencia a defasagem que temos na apreensão de nossa própria história. (Re)conhecer a participação das mulheres negras no cerne das lutas e movimentos socias é fundamental para compreender as transformações sociais ocorridas no Brasil. Referências como Luiza Mahin, Mãe Menininha do Gantois, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento entre outras, são sublimadas do nosso currículo escolar, ainda que tenham provocado mudanças essenciais na história de gerações, construindo possibilidades de futuro para a população negra.

Marchar nesse dia significa amplificar e fortalecer o movimento de mulheres negras, é o espaço para criarmos estratégias que nos levem a alcançar o bem viver, de pensarmos juntas em formas de enfrentamento ao racismo, ao sexismo, a discriminação e as desigualdades sociais. Na proposta de ser um exercício de escuta e de irmandade, trazendo para o seio das discussões políticas as nossas pautas, caminharemos sobre o mote “Por nós, por todas nós e pelo Bem Viver! Exigimos o fim da negligência e violência do Estado!” para mostrar que quando uma mulher negra avança, ninguém fica para trás.

No atual contexto brasileiro de árdua crise política, com desmantelamentos de políticas públicas, reformas arbitrárias e direitos em risco, as mulheres negras na cidade de São Paulo convidam a todas, todos e todes para discutir questões que as acomete diretamente, buscando por pessoas que acreditam em um novo projeto de nação e lutam pela democracia. De acordo com a descrição no evento do Facebook:

“Todas, todos e todes são bem-vindes. Lembrando que o protagonismo do ato em sua plenitude é das mulheres negras: as cisgêneras e as trans; as héteras e as lésbicas e bis; as organizadas e as autônomas; as religiosas e as ateias; e toda diversidade de mulher negra alinhada com o projeto emancipador da Marcha que começa com a manutenção da nossa vida.”

A concentração será na Praça Roosevelt, a partir das 17h.

O movimento lançou uma campanha de financiamento coletivo com a finalidade de viabilizar o autofinanciamento do ato, para cobrir despesas com transporte, alimentação, produção de materiais e infraestrutura, contribua acessando: encurtador.com.br/sxJ79.

Acompanhe as informações no facebook: encurtador.com.br/cikQY

Marcharemos por Marielle Franco, por Bruna, mãe de Marcus Vinícius, por Brenda, por Claudia, por Luana Barbosa e tantas que se foram. Seguiremos marchando por todas nós, por justiça as nossas mulheres assassinadas e pela visibilidade de nossas mulheres que transformaram a história desse país. E continuaremos em luta até que todas sejamos livres!

Não esqueceremos nenhuma de nós!